Fórum Estadual de Combate ao Mau Uso de Agrotóxicos no Piauí realiza sua terceira reunião com foco na preservação ambiental e na saúde pública

O Ministério Público do Trabalho do Piauí (MPT-PI) participou da terceira reunião do Fórum Estadual de Combate ao Mau Uso de Agrotóxicos, uma iniciativa que vem ganhando força desde sua instalação, no início deste ano. A reunião, realizada na sede do Ministério Público do Estado do Piauí, contou com a presença de diversos órgãos e entidades comprometidas com a proteção ambiental e a saúde pública, destacando a urgência em enfrentar os impactos negativos do uso envolvido de agrotóxicos no estado.

Desde a década de 1990, o avanço do agronegócio no Piauí trouxe uma série de problemas ambientais e sociais, marcados pela intensificação do uso de agrotóxicos. O Procurador do Trabalho e representante do MPT-PI na Coordenação do Fórum, Carlos Henrique Pereira, reforçou a urgência de abordar esses temas com seriedade. "Hoje, abordamos questões cruciais, como o impacto dos agrotóxicos na apicultura, a contaminação de nascentes e a relação desses produtos químicos com a saúde humana e ambiental. São temas que desativam um diagnóstico preciso e uma organização eficaz para enfrentá-los. A presença de agrotóxicos em nascentes, por exemplo, não só comprometem a qualidade da água, mas ameaçam toda a cadeia alimentar e a subsistência das populações que dependem dessas fontes", disse o procurador.

Os números reforçam a gravidade do problema. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, e o Piauí não está alheio a essa realidade. Entre 2000 e 2020, o consumo de agrotóxicos no país cresceu mais de 700%, e muitos dos produtos utilizados no Brasil já são banidos na União Europeia devido aos seus efeitos comprovados na saúde e no meio ambiente. Estudos apontam que a contaminação por agrotóxicos está ligada ao aumento de doenças como câncer, distúrbios neurológicos e malformações congênitas, além de impactos devastadores na biodiversidade.

A promotora Áurea Madruga, coordenadora do Centro de Apoio do Meio Ambiente do Ministério Público do Piauí (CAOMA) e do Fórum Piauiense de Combate ao Mau Uso de Agrotóxicos, destacou a importância de entender essa realidade para promover mudanças efetivas. "Hoje, nós temos a nossa terceira reunião. O fórum foi instalado este ano e, desde então, temos buscado nos aproximar da comunidade, especialmente dos agricultores, para entender a situação do uso de agrotóxicos no estado do Piauí. É conhecendo a realidade local que podemos identificar o que está errado e expandir as práticas que dão certo", afirmou.
A reunião também contou com a participação de representantes do Ministério da Agricultura, da Secretaria de Agricultura, da Agência de Defesa Agropecuária do Piauí (ADAPI) e de outras instituições parceiras. Todos compartilharam preocupações semelhantes sobre o avanço do agronegócio no estado e o aumento do uso indiscriminado de agrotóxicos, que trouxe sérias consequências, como desmatamento, exploração de trabalhadores e mortes por contaminação.

O Vice-presidente do Sindicato Nacional de Auditores Fiscais, Médico do Trabalho e especialista em Medicina de Saúde e Segurança do Trabalho, Dr. Francisco Luís Lima, é considerado o pioneiro nessa discussão. Ele alertou para o perigo do uso excessivo de agrotóxicos, não só no Brasil, mas em todo o mundo. "O mundo inteiro está tomando banho de agrotóxicos. Todos os nossos alimentos, até o leite materno, estão contaminados. É fundamental frear esse uso e proibir os agrotóxicos já banidos em outros países, como os da Europa, que frequentemente são enviados para a América do Sul", afirmou.

Segundo ele, já na década de 90, com a chegada do agronegócio ao Piauí, começaram a surgir problemas como o desmatamento e a exploração de trabalhadores sem registro em carteira e sem equipamentos de proteção. E logo depois, a quantidade de agrotóxicos aplicada no estado começou a preocupar, com denúncias de mortes por contaminação. "Para enfrentar esse problema, é necessário que toda a sociedade se envolva. Não podemos deixar essa responsabilidade apenas para os auditores, procuradores ou o Ministério Público. Cada cidadão precisa ter clareza sobre os riscos dos agrotóxicos, especialmente quando pensamos nas crianças, que estão expostas desde cedo a esses venenos” finaliza.

Também esteve presente a Auditora Fiscal do Trabalho e a Representante do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho, Dra. Paula Mazullo, que destacou a gravidade da situação atual no Piauí em relação ao uso de agrotóxicos, incluindo aqueles já proibidos no Brasil. Ela observou que o uso recorrente desses produtos tem causado danos severos ao meio ambiente, como a contaminação dos rios, especialmente com a adoção de tecnologias como a frequência aérea. “Nenhuma economia pode se sustentar se causa prejuízos aqueles que a sustentam, no caso, os trabalhadores”, afirmou Paula. Ela enfatizou que o desenvolvimento do Piauí precisa ser limpo e baseado em trabalho decente, pois não pode se falar de trabalho digno quando os trabalhadores adoecendo, tanto físicos quanto mentalmente, no ambiente de trabalho para ela, é urgente que todas as instituições se unam nessa discussão sobre o uso de agrotóxicos, já que os temas de meio ambiente e trabalho estão interligados e afetam diretamente os direitos humanos. “Há uma necessidade urgente de atuarmos coletivamente”, concluiu.

Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) indicam que, no Brasil, mais de 40% dos alimentos analisados ​​apresentam resíduos de agrotóxicos, sendo que uma parcela significativa deles está acima do limite permitido ou contém substâncias não autorizadas. Esse quadro expõe a população a riscos constantes, especialmente as crianças, que são mais vulneráveis ​​aos efeitos tóxicos.

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